É um filme sobre gangsters na Chicago dos anos 50. Mas não tem tiroteios entre os mafiosos nem perseguições de carros no modo vida louca. Toda a história se passa num único cenário: A alfaiataria de Leonard (Mark Rylance). Parece teatro filmado. Mas não é. Tem ritmo de cinema. "Então, com um cenário único fica chato, arrastado?", podem me perguntar. Pelo contrário. Com ótimos diálogos a história avança. E o fato de ser no ateliê de Leonard, aquela sensação de presença do espectador na cena aumenta. Cresce o envolvimento no enredo.
Nosso personagem principal aprendeu a fazer ternos bem cortados, chiquérrimos, na famosa Savile Row, de Londres. Confesso que não conhecia. Não vou mentir. Aprendi com o filme.
Mas aí ele sofre uma tragédia pessoal e troca Londres por Chicago. E vai abrir o negócio onde o dinheiro que sobrou dava: Num bairro barra pesada onde quem pode, compra roupas chics. Mas essa clientela tem uma característica: É formada por famílias de gangsters que. obviamente, estão sempre em guerra.
Essa batalha por espaço vai pra dentro da alfaiataria e envolve Leonard e a assistente dele: A ambiciosa e sonhadora Mable (vivida por Zoey Deutch, uma atriz que, se não é uma estrela, tecnicamente, dá conta do recado).
O enredo tem muito de Agatha Christie e Alfred Hitchcock. Tem uma boa dose de suspense, mistério. Uma virada na história aqui e outra ali. Ao longo do filme o perfil dos personagens principais vai mudando... mudando...
Aquele alfaiate idoso, quietinho, mais preocupado em riscar e e cortar tecidos será que está totalmente alienado do mundo? Não se interessa pelo o que acontece ao redor dele?
Uma frase de "O Alfaiate" explica bem isso:
"Um alfaiate, sempre a ouvir, nunca a falar, mas ninguém para pensar: O que se passa na sua cabeça?"
* "O Alfaiate" (2022) está disponível na Netflix.