Foi numa segunda-feira fria, chuvosa. Ah, Curitiba, numa "falha". Foi num dia com esse clima típico da cidade que o escritor e advogado Dalton Jérson (com J) Trevisan deixou esse mundo inglório. E o temperamento de Dalton era como o clima curitibano: Introspectivo (e bota introspectivo nisso!), fechado, tímido, retraído, de interação social praticamente zero.
Dalton nasceu em Curitiba no dia 14 de junho de 1925. Ou seja, em menos de um ano completaria 100 anos. Morreu nesse 9 de dezembro de 2024. Estudou em escolas públicas: Colégio Estadual do Paraná e Universidade Federal do Paraná, onde se formou em Direito. Exerceu a profissão de advogado durante 7 anos. Antes, na juventude, trabalhou na fábrica de vidros da família.
Ainda na faculdade começou a escrever e a lançar contos de uma forma, digamos, amadora. Aí começou a se profissionalizar como escritor.
Entre 1946 e 1948, liderou um grupo que publicou a revista Joaquim. De acordo com Dalton, o nome era "uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil." E era um time da pesada: Antonio Candido, Mário de Andrade e Otto Maria Carpeaux. E poemas inéditos de Carlos Drummond de Andrade.
O primeiro Prêmio Jabuti veio em 1959 com "Novelas Nada Exemplares". Desde aquela época já confirmava uma das caraterísticas principais dele: Mandou um representante receber o prêmio. A partir daí começou a "emendar" um livro atrás do outro: "Morte na Praça" (1964), "Cemitério de Elefantes" (1964) e "Vampiro de Curitiba" (1965). O "Vampiro" acabou virando apelido do escritor. Em 1985 escreveu seu único romance: "A Polaquinha".
Ao todo foram 51 obras. Uma delas virou filme: "A Guerra Conjugal", em 1974, com roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade.
Principais prêmios: Jabuti (1960, 1965, 1990 e 2011), APCA (1976), Portugal Telecom (2003), Fundação Biblioteca Nacional (2008 e 2015), Camões (2012), Machado de Assis (2012), Negrinho (2013).
Seus livros foram traduzidos para vários idiomas, entre eles, inglês, italiano e espanhol.
Ótimo frasista, deixou algumas pérolas. Entre elas:
"Não fale, amor. Cada palavra, um beijo a menos".
"O que não me contam eu escuto atrás das portas".
"Muito sofredor ver moça bonita - e são tantas!"
"No muro o caracol se derrete nos rabiscos da assinatura prateada"