quinta-feira, 3 de outubro de 2024

NELSON MOTTA: O ENVELHECIMENTO E SUAS DORES

    



    Jornalista. escritor, roteirista, compositor, produtor musical, dramaturgo e  apresentador. Comunicação/arte  é com ele. É autor de mais de 300 músicas com os mais diversos parceiros. Entre eles: Rita Lee, Lulu Santos, Erasmo Carlos e Dori Caymmi. Lembra da canção de fim de ano da Globo? "Um Novo Tempo". Poisintão! Ele escreveu junto com os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.
    Foi o fundador e dono da discoteca Frenetic Dancing Days que ele abriu em 1976 no Rio de Janeiro. Durou apenas 4 meses. Mas parece que durou mais por causa da "vida loca" que rolava por lá. O próprio Nelsinho já disse: "Era uma devassidão total!".
    Motta foi casado 4 vezes tem três filhas e três netos. A atriz Marília Pera e a empresária de moda Costanza Pascolato foram esposas dele.
    Paulistano, Nelson Motta está com 78 anos e escreveu para o jornal O Globo uma crônica sobre as dores que acompanham o envelhecimento. O texto foi reproduzido pelo portal 50 e mais e. agora, pelo Bora Pensar!

    Para aliviar o clima, vamos falar um pouco de dor. Dores físicas e morais, emocionais e profissionais, crônicas e psicológicas. Imagino que o tema possa interessar a muita gente porque todo mundo sente dor. Mas, falando das físicas, são os mais velhos que sofrem mais. Aos 60 anos, Millôr Fernandes dizia que estava na “idade do condor”. Com dor na lombar, com dor no joelho…

    A maturidade oferece a opção da sabedoria de aprender na dor ou ser derrotado por ela, seja no corpo ou nos sentimentos. O sofrimento pode ensinar ou destruir uma pessoa. O ressentimento, sentir de novo dores já vividas e passadas, é um dos mais inúteis e nocivos sentimentos.

   Guardar memórias dolorosas e revivê-las em sua tristeza, ou em sua raiva, ou em sua injustiça, é uma das maiores armas de meu maior inimigo, o que melhor me conhece, o que sabe meus pontos vulneráveis: eu mesmo. Assim como você mesmo.

    Nós somos vários em um só, e nem todos gostam de todos, alguns nos empurram para frente e outros nos derrubam. E estamos em constante transformação, não dá para se dizer quem se é, mas quem se está sendo. Tudo está em movimento.

    Voltando às dores, no caso as neurológicas, há sete anos tive um problema grave na medula, que estava me deixando paraplégico. Duas cirurgias resolveram o problema, mas depois de 20 dias imóvel no hospital voltei para casa sequelado, com as pernas totalmente flácidas.

    Tive que aprender a andar de novo, em um andador, e depois de meses de fisioterapia diária e exercícios voltei a caminhar. Sempre sentindo dores, na lombar, nas pernas, nos pés, a pior das sequelas — mas aprendi a conviver com ela. Como disse o doutor Paulinho Niemeyer, que me salvou com as cirurgias, quando fui ao consultório e me queixei das dores: “Só dói quando você lembra, né ?”

    Verdade cruel. Quando estou feliz, me divertindo, na praia, viajando, namorando, beijando, abraçando, nem lembro das dores. Em compensação, quando minha cabeça e meu coração estão confusos, as dores aumentam, se fazem presentes, como se materializassem meu estado de espírito. Acho que muitos de nós às vezes sentimos isso, somatizamos, paciência, o jeito é esperar passar. Tudo passa, tudo sempre passará.

    Mas como lutar contra a dor, além de analgésicos? Quanto mais fortes, mais perigosos, pelos riscos de dependência. Gosto muito de acupuntura, quando feita por profissionais especializados em dor. Não cura a doença, mas é eficiente para tirar a dor, que é o que interessa para quem está sofrendo.

    Também venho tomando óleo de CBD e microdoses diárias de cogumelos Juba de Leão. Acho que tem ajudado a dar força e energia para combater as dores — não para acabar com elas, mas mantê-las sob controle.

    O exercício, a musculação, é paradoxal: para diminuir a dor tem que doer mais. Mas sem ele, as dores aumentarão… Não há opção.