segunda-feira, 12 de agosto de 2024

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO ILIMITADA

   


     Não há nenhuma dúvida de que o trabalho de todos os socorristas (policias, bombeiros, médicos, enfermeiros...) foi importantíssimo na queda do avião em Vinhedo que matou 62 pessoas, e é também fundamental em outras tantas catástrofes que a gente tem notícia com frequência. 
    No caso do avião que caiu no voo entre Cascavel e Guarulhos, uma imagem que chamou a atenção: No local da queda, os socorristas posaram para uma foto. A primeira questão é: Qual o motivo da foto? "Reconhecimento" pelo trabalho prestado? Precisa? Insisto: precisa ser através de uma foto? 
    O advogado e professor universitário Lenio Streck levantou essa situação (publicou a foto) e fez uma relação com a "sociedade do espetáculo", expressão criada pelo escritor francês Guy Debord, que, de uma forma bem resumida, é "o conjunto de relações sociais mediadas pelas imagens"
    Essas equipes de segurança e resgate, segundo publicação de Streck, são de São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). A imagem seria a busca de "publicidade" para o governo? Ou foi  iniciativa de quem estava ali, naquele ambiente terrível, e disse :"Vamos registrar esse momento estressante para todos nós?"
    De fato, trabalho dificílimo e muito cansativo para todos aqueles profissionais. 
    Mas faltou alguém para lembrar: "Ei, será que devemos mesmo fazer essa foto? Será que não é melhor esquecemos essa ideia?"
    Por falar em imagem, há que se lembrar, também, do trabalho da imprensa. A cobertura de tragédias tem que ser feita com muita racionalidade (isso não significa frieza no trato do assunto). Há uma linhazinha muito fina entre o que é informação e o que é sensacionalismo. Que é o famoso "explorar o sofrimento do outro"; ou o "enquanto não chorar, não para de gravar".
    É usar o sofrimento das pessoas pra conseguir audiência, cliques e aquela praga que 10 entre 10 "influenciadores" afirmam que é fundamental pra sobreviver nas redes sociais: engajamento.
    Pra terminar, lembrei da frase infeliz de um colega que ao chegar ao local de trabalho dizia, em tom de "brincadeira" (mas sem graça nenhuma!) e que, apesar do tom jocoso, trazia  o que é verdade no pensamento de vários colegas:
    "Será que hoje não vai cair nenhum avião pra animar um pouco o nosso dia?"