terça-feira, 20 de agosto de 2024

"O PREÇO DA VERDADE": SE TEM TEFLON... A CULPA É DA DUPONT

    

     Um homem, uma missão. Esse é o resumo da vida do advogado Robert Bilott que ousou peitar a gigante DuPont num processo milionário para indenizar milhares de pessoas contaminadas por produtos tóxicos feitos pela indústria. Não só seres humanos. Os animais de pequenos fazendeiros numa pequena cidade da Virgínia Ocidental nos EUA também foram envenenados. Foram intoxicados, também, trabalhadores da multinacional.  Um dos maiores problemas foi a contaminação da água da região.
    A intoxicação durou décadas. A situação foi descoberta na década de 1970. Aí começou o processo. Que é lento quando a causa é desse tamanho. Assim como o ritmo do filme que acompanha, em detalhes, o desenrolar da história. São fatos reais. Personagens reais.
    O ator Mark Ruffalo faz o papel principal e é produtor do filme. Um ator talhado para a missão de interpretar o advogado motivado pelo senso de justiça. Mais do que pensar nos honorários, o personagem quer que o mal seja reparado. Ruffalo é assim na vida real. Ativista ambiental e político, sempre está à frente de manifestações quando o meio ambiente e os direitos humanos estão em risco. Bora lembrar a atuação dele contra uma dupla de extrema-direita: Trump e Bozo.
    E pensar que em "O Preço", quem despertou a opinião pública para o problema (que pode ser global) foi um fazendeiro caipira com pouco estudo. Ele, a família e os bichos da propriedade foram vítimas do PFOA - o produto químico usado na produção do... teflon. E esse tem mil e uma utilidades: em panelas, formas, assadeiras, tapetes, mangueiras, próteses dentárias, embalagens de pizza e de pipoca para micro-ondas, roupas impermeáveis, tapetes, lâmpadas...
    A briga entre a gigante e o escritório do advogado é contada em partes. Cada bloco é mostrado pelo ano em que algo importante no enredo acontece.
    Pelo perfil do advogado Robert Bilott, o personagem está bem entregue a Mark Ruffalo. Mas se pensarmos na história do cinema, esse enredo seria perfeito para James Stewart (1908 - 1997). Um ator que interpretava homens de caráter firme e corajosos. Muitos em busca da solução de uma causa.
    O elenco está recheado de estrelas: Tim Robbins, Bill Pullman, Bill Camp, Victor Garner e Anne Hathaway. Dá pra dizer que Anne interpreta um papel pequeno. Ela é a mulher do advogado vivido por Ruffalo. A personagem dela também é advogada. Mas se restringe mais em ser a dona de casa e mãe dos filhos... Parece ser coincidência... mas ela fala numa conversa com o chefe do escritório: "Não me trate apenas como a esposa...".
    O diretor do filme é Todd Haynes. Entre outros trabalhos ele comandou "Carol" com Cate Blanchett e Rooney Mara.
    A busca pela verdade. E qual o preço que se deve pagar por isso? Família, emprego, saúde, vida? O filme tem um clima melancólico e as cores são "chapadas", muita vezes "puxando" para o cinza. 
    Um caminho que parece não levar para um final feliz. É o caminho pelo vale das sombras...
    Não conto o final, mas dou uma boa notícia:  o PFOA (substância que foi considerada cancerígena pelas autoridades médicas) já não é mais usada há vários anos na produção de panelas...

    * O filme está disponível no Telecine e no Prime.