quinta-feira, 1 de agosto de 2024

ARGENTINA E BRASIL: "PAÍSES NÃO TÊM AMIGOS, TÊM INTERESSES"

    


    
    Vamos dar crédito a quem merece. O autor dessa frase "países não têm amigos, têm interesses" é o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, John Foster Dulles (1888-1959). Ele exerceu o cargo  no governo de Dwigth Eisenhower, de 1953 a 1961. Foi no período de grandes conflitos mundiais e da Guerra Fria. 
    A frase de Dulles tem fundamento político. O que se busca em relações internacionais é a realização de interesses: O que um país pode fazer pelo outro para resolver um problema, um impasse. Para realizar um negócio. Americanos gostam de brasileiros não porque somos simpáticos, alegres. Eles podem gostar da gente porque o país é o maior da América do Sul e é estratégico no jogo diplomático. Isso ficou provado na Segunda Guerra Mundial com a aproximação dos americanos usando o cinema e a música. Nos Estados Unidos cantaram e dançaram o "South American Way"... E aqui eles fizeram várias obras, construíram aeroportos em lugares considerados estratégicos para evitar a expansão do nazismo.
    Mesma coisa dá pra se dizer da relação Argentina x Brasil. Nossa maior rivalidade com os chamados "hermanos" é no futebol. Na política até que a gente se entende. Só dá bronca quando em um dos lados a extrema-direita toma o poder. É o que acontece agora. 
    Para "jogar para a torcida" argentina e ganhar a simpatia dos bozomínions, o presidente Javier Milei já chamou o presidente Lula (PT) de "corrupto" e "comunista". Veio ao Brasil há pouco tempo e não pediu para se encontrar com Lula. Uma das maiores demonstrações de falta de respeito diplomático é um presidente visitar outro país e não solicitar um encontro com o chefe de governo. 
    Luís Inácio já deixou claro, várias vezes,  que é um estadista. Apesar de todos os ataques e falta de educação e de cidadania de Milei, já disse que aceita manter uma relação com a Casa Rosada. Desde que seja apenas no campo da diplomacia. Para Lula, o atual presidente argentino não seria uma boa companhia para tomar um dos ótimos vinhos que são produzidos na região de Mendoza.
    Poisintão...  Nesse imbróglio que se transformou a reeleição de Maduro na Venezuela, Lula, Biden e outros presidentes agiram com cautela. Não saíram dizendo que houve fraude. Mas pedem que o governo venezuelano divulgue os mapas de votação. A Argentina, ao contrário, partiu para a ignorância e acusou Maduro de irregularidades na eleição. 
    O presidente da Venezuela não aceitou a baixaria de Milei e mandou expulsar o corpo diplomático argentino. Não só da Argentina, mas de outros países que criticaram ferozmente o processo eleitoral. 
     Numa demonstração de civilidade, Lula mandou que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil defendesse os interesses da diplomacia argentina a pedido da chanceler do país vizinho, Diana Mondino.
    Javier Milei reconheceu a ajuda brasileira. Como agradecimento, mandou hastear a bandeira do Brasil na embaixada (lembre que uma embaixada é considerada território estrangeiro em um solo nacional) e escreveu uma mensagem na rede social:
    "Agradeço imensamente a disposição do Brasil em assumir a custódia da embaixada da Argentina na Venezuela. [...] Os laços de amizade que unem a Argentina ao Brasil são muito fortes e históricos".
    Poxa... nem parece que é o Milei dizendo isso... de "inimigo" de Lula, virou "amiguinho", rapidinho.
    De fato, mister Dulles, "países não têm amigos, têm interesses".