Sim! Em 1940, o genial Charles Chaplin já havia usado a ironia para retratar Adolf Hitler e seus horrores em "O Grande Ditador" (1940). Ele faz Adenoid Hynkel, tirano que assume o governo de Tomainia. Ele discrimina judeus locais. Chaplin também interpreta um barbeiro judeu que desconhece essa situação porque está em tratamento médico por ter participado da Primeira Guerra Mundial.
Quem também satiriza o nazismo é o diretor alemão Ernest Lubirsch, nascido em Berlim, mas que nessa época já estava exilado nos EUA assim como outros diretores e atores/atrizes alemães e austríacos. Em 1942 ele mandou para as telas "Ser ou Não Ser" ("To Be Or Not To Be", usando "Hamlet" como uma peça dentro do filme). Em verdade, o filme é sobre a Polônia ocupada na Segunda Guerra, e começa com uma peça sendo encenada que ironizava o ditador alemão. Mas com a chegada das tropas nazistas à Varsóvia, baixou uma censura violenta e os artistas tiveram que encenar Shakespeare.
Os papéis principais de "Ser ou Não Ser" são interpretados por Carole Lombard e Jack Benny. Eles formam o casal de atores Maria e Joseph Tura na companhia de teatro. Aos 33 anos, belíssima, Carole interpreta uma esposa que não resiste a homens mais jovens e charmosos. E rola lances de infidelidade, apesar de ela afirmar que ama o marido e que não o abandonaria...
Mesmo não tendo sido bem recebido por boa parte da crítica, por tratar com humor uma situação tão séria quanto o nazismo, o texto da produção é ótimo. Diálogos afiados, irônicos, inteligentes. E não é só Lombard e Benny que estão muito bem. A química de todo o elenco é ótima.
No começo do filme tem uma voz em off que descreve a presença de Hitler em Varsóvia, e aí já é uma narração irônica.
Hitler, ou o sósia de Hitler, para diante da delicatessen Maslowki e o narrador diz:
“Isso é impossível! Ele é vegetariano! No entanto, nem sempre ele segue sua dieta. Às vezes ele engole países inteiros. Será que ele quer comer a Polônia também?" No QG da Gestapo, Hitler aparece e os militares se apressam em fazer a saudação: "Heil, Hitler!" E ele responde: "Heil, eu mesmo!"
Na história, Maria e Joseph usam seus dons de interpretação para agirem como espiões infiltrados entre os nazistas. Os alemães são retratados como "patetas", idiotas, que só fazem trapalhadas, apesar de genocidas.
Na crítica surgiram opiniões do tipo "uma sátira brilhante apesar de ser um dos filmes mais controvertidos de sua época." E o uso do humor para ridicularizar o nazismo também foi lembrado com a afirmação: "Um exemplo de com a comédia pode promover a conscientização social e política ao mesmo tempo em que fornece grande entretenimento."
Esse foi o último filme de Carole Lombard. Ela morreu de forma trágica em janeiro de 1942, aos 33 anos, quando o avião de médio porte em que estava (voltando de Las Vegas para Los Angeles) se espatifou contra uma montanha logo depois de decolar. "Ser ou Não Ser" foi lançado dois meses depois da morte da atriz que era casada com o ator Clark Gable.
É Hitler ou não é?
Carole Lombard mostra para os nazistas quem manda no pedaço
* O filme está disponível de graça no YouTube