quarta-feira, 5 de junho de 2024

DEMÊNCIA 13: QUANDO COPPOLA PENSOU QUE ERA HITCHCOCK

    


    Ele já dirigiu vários filmes que podem ser colocados na principal prateleira da história do cinema. São considerados clássicos de Hollywood: A trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now, Drácula de Bram Stoker, Peggy Sue - Seu Passado a Espera, Loucuras de Verão. Só para citar alguns.
    Mas, como muitos cineastas, Francis Ford Coppola começou como "estagiário". Fazendo filmes muito pequenos, com orçamento reduzido para a produção e para o cachê dos artistas. O que é considerado o primeiro filme dele como realizador é Demência 13 (1963). A película tinha as "digitais" do produtor Roger Corman, uma história com vários ingredientes: Sustos, cenas de violência gratuita, banhos de sangue e nudez. Ele era chamado de "O Rei dos Filmes B". Por aí você tem uma ideia...
    Em todos os sentidos a qualidade foi muito baixa: a interpretação "robótica", o roteiro fraco e previsível (e olha que Coppola escreveu o texto...)  e a péssima qualidade de imagem e de som. Pra se ter uma ideia, nas primeiras cenas, um casal conversa num pier e entra num barco. No radinho do cara toca um rock que "parece ser" de Elvis Presley. Mas o som é tão ruim que mais parece uma "interferência" no filme. 
    O crítico Rubens Ewald Filho (1945-2019) lembrou, quando escreveu sobre o filme: "Coppola o realizou com sobras de negativo e o mesmo elenco de um projeto anterior de Corman, que estava sendo feito na Irlanda."
    A história se passa num castelo irlandês onde vive uma família rica que não consegue superar a morte da filha mais nova (ainda adolescente). A tragédia já havia acontecido há alguns anos. Todo ano os parentes fazem uma homenagem para a menina. Como tragédia pouca é bobagem, logo no começo, um dos filhos da matriarca morre. A viúva está interessada na herança. Mas descobre que só receberia parte da "bufunfa" se o marido dela estivesse vivo. E  claro, só veria a cor do dinheiro quando a "véia" morresse....
    Em um dos anos que a parentada lembra da filha morta, o assassino (que teria matado a garota) aparece e vai acabando com quem cruza o caminho dele. O enredo "segura" o mistério até onde pode sem revelar a identidade do matador. 
    "Demência" tem um "q" de Psicose (que Hitchcock havia filmado 2 anos antes). Uma influência sentida no enredo com dramas familiares, trilha sonora e a presença de duas personagens loiras. Ao mesmo tempo atraentes e frias....
    Como o filme é muito curto (apenas 1h15min), Coppola vai despejando informações na cabeça da gente a torto e a direito. Afinal, ele não quer perder um segundo sequer da produção que quase parece um curta metragem. 
    Pena que o resultado final do primeiro produto que ganhou o carimbo Francis Coppola (até então ele não usava o Ford no nome) como diretor, não esteja nem perto do que se transformou o cineasta: Um dos melhores do mundo. Uma daquelas poucas pessoas que atraem a atenção do público só por ter o nome no filme.
    Curiosidades sobre o produtor Roger Corman (que morreu há pouco tempo, em 9 de maio de 2024, aos 98! anos). Mesmo sendo autor de filmes "trash", ele foi responsável por lançar diretores e atores que se tornaram consagrados: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Peter Bogdanovich, James Cameron, Jonathan Demme, Ron Howard, Joe Dante, John Landis, Robert DeNiro, Jack Nicholson e Ellen Burstyn. Como diretor, Corman esteve à frente de 28 filmes. Produziu mais de 400 filmes e ganhou um Oscar honorário em 2009.

* O filme Demência 13 tem esse nome porque se chamaria apenas "Demência". Mas descobriram que já havia outra produção com esse título. Aí. sem um motivo aparente, acrescentaram o 13. Imagino que escolheram o 13 por ser considerado o número do azar em muitos países.


O jovem cineasta Francis Coppola no começo dos anos 60


Roger Corman produziu e realizou mais de 400 filmes


ATENÇÃO: Demência 13 está disponível de graça no YouTube. Com som original e legendas.