Egocêntrico, vaidoso, arrogante, explosivo e... violento. Assim já dá pra ter ideia do perfil do roteirista de cinema Dixon Stelle (Humphrey Bogart). Esse jeitão de "fio desencapado" ou "granada sem pino" é um problema na vida profissional e pessoal do sujeito.
Depois de fazer alguns roteiros de sucesso, o trabalho dele está igual a uma montanha russa. Até que surge a oportunidade de transformar um livro de sucesso (mas considerado popular, "literatura barata") em script de cinema. Mas a desconsideração dele por esse tipo de livro lhe dá uma ideia: Convidar uma secretária para ir (à noite!) na casa dele e contar a visão dela da história (afinal, a mocinha acabara de ler o romance). Mildred Atkinson (Marta Stewart) faz o relato e vai embora logo depois da meia-noite. Ele a despacha para um ponto de taxi depois de pagar pelo "serviço de leitura".
Problema é que a jovem é assassinada naquela noite. Quem matou Mildred Atkinson? O primeiro suspeito, claro, é Stelle. O temperamento explosivo e o comportamento violento o colocam na primeira fila entre os possíveis matadores. Sorte (ou azar?) dele é que a vizinha da porta em frente, Laurel Gray (Gloria Grahame) acaba se apaixonado por ele e se torna seu álibi.
A partir daí o bicho pega. Ou... começa a caçada gato-rato com os detetives e o delegado tentado descobrir se as desconfianças contra Dixon Stelle fazem ou não sentido.
"No Silêncio da Noite" (1950) é um dos melhores exemplos do que se convencionou chamar de cinema noir (aqueles filmes de suspense policial) que existiu entre os anos 30 e começo dos 50. Não era exatamente um gênero (já que no entre guerras e o pós segunda guerra era um tempo de faroestes e de musicais na telona pra apresentar algo mais "leve" para os americanos), mas acabou virando uma categoria com a chegada dos diretores europeus que fugiam justamente das duas grandes guerras mundiais.
O diretor americano Nicholas Ray também embarcou nessa aventura noir. No comando de "No Silêncio", deu ótimas pinceladas de preto e branco ao filme. Ele que um dia disse "o cinema é a melodia do olhar", compôs um grande personagem para Humphrey Bogart. Aquele jeitão melancólico e olhar blasé de Borgart está muito presente em Dixon Stelle.
E Ray ((1911-1979) foi um diretor de muita criatividade, e também de muitas cores. Comandou outros sucessos que ajudaram a fazer a história do cinema americano: "Johnny Guitar" (1954), "Juventude Transviada" (1955), "Rei dos Reis" (1961) e "55 Dias em Pequim" (1963). Ao todo dirigiu 25 filmes.
* O filme está disponível no Now/Claro