quarta-feira, 22 de março de 2023

CLEBER MACHADO FORA DA GLOBO: "HOJE NÃO... HOJE NÃO... HOJE SIM! HOJE SIM..."

   


     35 anos de empresa não são 35 dias. E Cleber Machado, depois de quase 4 décadas, foi  mandado embora da TV Globo onde narrou de tudo (ou quase tudo...) no esporte. Cobriu Copas do Mundo e Olimpíadas. Também Fórmula 1. E foi nessa modalidade automobilística que Cleber criou o que, humildemente considero, o melhor bordão esportivo. Em uma frase ele conseguiu resumir toda a frustração da torcida brasileira. Vamos à história:
    Dia 12 de maio de 2002, Grande Prêmio da Áustria. Rubens Barrichello e Michael Schumacher estavam na mesma equipe, a Ferrari. E havia um "acordo informal", de bastidor. Se o brasileiro estivesse na frente do alemão, deveria deixá-lo passar pra somar pontos para o título. Rubinho estava num dia inspirado. Fez a pole position e liderou a prova até a última curva. Ele contou numa entrevista que a equipe ficou 8 voltas "buzinando" no ouvido dele pra abrir caminho pra Schumacher. Com tanta pressão foi o que ele fez.
    Cleber - e todos os brasileiros ligados naquela manhã de domingo -  achavam que naquele GP seria diferente. Mas não foi. Daí veio o bordão do narrador ao ver que a linha de chegada se aproximava e Barrichello liderava. O narrador foi da extrema alegria à extrema decepção: "Hoje não... hoje não... hoje sim! Hoje sim..."
    Cleber Machado, que era o locutor para as transmissões dos jogos dos times de São Paulo no brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores... foi dispensado da forma "canalha corporativa". Em vez de mandá-lo logo embora, foram tirando espaço dele. Prova maior foi na Copa do Catar: Ele não foi escalado pra narrar jogos "in loco". Ficou no Brasil fazendo os jogos "menores". Falta de respeito. Mas ele foi muito profissional. Para o telespectador procurou passar uma narração mais descontraída, fugindo daquele "padrão Globo de formalidade". Fez uma ironia aqui e outra ali. Umas piadinhas de vez em quando. Não chegou a ser um Sílvio Luiz ("O que é que eu vou dizer pros meus filhinhos..."), mas sempre que deu passou felicidade naquilo que fazia. Surpreendeu com a mudança. Tentava se reinventar. Isso é profissionalismo.