O fim das grandes livrarias no Brasil daria... um livro! Na quinta-feira a Justiça decretou a falência de uma das últimas (talvez a última) gigante do setor no país: A livraria Cultura com sede em São Paulo e filiais em algumas capitais, entre elas Curitiba. A loja curitibana já havia fechado há algum tempo.
O fim da Cultura foi melancólico: as editoras literalmente correndo pra retirar os livros que ainda estavam nas prateleiras de espaço próprio na loja da Avenida Paulista, principal endereço do negócio. Por falar em negócio, estariam as mega livrarias sendo vítimas da compra de produtos vai internet? Tanto de livros em papel como dos chamados "livros digitais"? Quem (ainda) lê livro estaria comprando mais dessas companhias que atendem a clientela via computador e a preços mais competitivos?
Sem trocadilho, é lamentável o fechamento da Cultura porque é - literalmente - mais uma porta que se fecha para a cultura tão desprezada no país pelas autoridades e pela ignorância do Zé Povão. Hoje, pra sobreviver, essas lojas maiores vendem tudo quanto é tipo de livro, material escolar, material de escritório, decoração, brinquedos, eletrônicos. Curioso que , quando a Fnac (em 2017) decidiu ir embora do país (a matriz é francesa) foi a Cultura que assumiu a operação das lojas da empresa que deixava o Brasil. Mais: a Fnac pagou 150 milhões de reais para a Cultura ficar com o negócio. Estranho? Nem tanto. Para os franceses seria mais caro ter de demitir tanta gente e "se livrar" de 11 pontos de lojas alugados em algumas capitais.
O setor livreiro é uma história de mistério e suspense. E pensar que, antes de assumirem a Fnac (para depois fechá-la) os donos da Cultura estiveram a um passo de fazer uma fusão com a ...Saraiva! A livraria que também quase quebrou, passa por recuperação judicial e foca, agora, em expansão através de franquias por cidades menores, do interior.
Outra - com forte presença em aeroportos - a Laselva não teve a mesma sorte: Pediu recuperação em 2013, mas teve a falência decretada em 2018.
Num país como o nosso, com um índice de educação baixíssimo, com o hábito de leitura que beira a zero, com o desinteresse por livros que só aumenta... ter uma operação gigante nesse setor é quase como praticar um "haraquiri" nos negócios.
A Cultura já foi modelo e inspiração para vários livreiros do país. Até para autores. Internacionais. O escritor português José Saramago (1922 - 2010), prêmio Nobel de Literatura, a descreveu como "Uma linda livraria. Uma catedral de livros".