sábado, 12 de novembro de 2022

"ARGENTINA 1985": A LIÇÃO DE HISTÓRIA QUE O BRASIL PERDEU

    


    Quando os assuntos são: educação política, consciência social e cinema, os nossos hermanos estão pelo menos um passo à nossa frente. As produções que vêm do país vizinho mostram isso. E quando é preciso remexer o baú fétido da história, os argentinos têm algo pra nos ensinar.
    "Argentina 1985" estrelado por Ricardo Darín (com produção do filho dele, Chino Darín) é o exemplo mais recente. É a história real do julgamento de oficiais que comandaram a ditadura no país de 1976 a 1983. Darín  faz o promotor Júlio César Strassera (1933-2015) encarregado de tentar mandar pra cadeia quem mandou prender, torturar e matar os "subversivos".
    Strassera foi nomeado promotor em 1983 pelo então presidente Raúl Alfonsin (1927-2009). Por sua vez, o promotor nomeou o promotor adjunto  Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani, ótimo no papel). Jovem e cheio de vontade de mandar pra trás das grades os militares ditadores, Ocampo foi o "empurrão" que faltava para Strassera, a princípio um típico burocrata,  seguir em frente e juntar muitas provas para o chamado "Julgamento das Juntas".
    Foram julgados 9 réus, incluindo 3 ex-presidentes. Em dezembro de 1985 saiu o veredito: o general Jorge Videla e o almirante Eduardo Massera foram condenados à prisão perpétua. Outros 3 tiveram penas mais leves, e quatro foram absolvidos por "insuficiência de provas".
     E onde entra o Brasil nessa história? Pela semelhança de acontecimentos nos dois maiores países da América do Sul.  A historiadora e professora da USP, Lilia Schwarcz, lembra que o Brasil teve a "Comissão da Verdade" no governo de Dilma Rousseff. Mas era uma comissão "esvaziada": Poderia indicar os malfeitores mas não puni-los. 
    E pra "se verem livres" de qualquer "ameaça" de julgamento no futuro, os militares que usam farda verde-oliva se apegam a uma "anistia militar" de 1985, e a anistia ampla, geral e irrestrita de 1979.
    Tem o ditado que diz: "o combinado não sai caro". Mas vale para a política e a Justiça? Pode ser que sim! Sendo assim, todos nós temos uma missão pra lá de impossível: Ensinar a lição à maioria dos brasileiros de que a prisão, a tortura e a execução apenas por motivação política não é legal. Pode ser considerado crime. Pra isso acabar, seria preciso que se parasse de votar em candidatos de extrema direita. Acabamos de ter uma eleição e...
    Talvez nossa primeira aula seja assistindo "Argentina 1985". 
    Isso os argentinos nos ensinam.

    * O filme está disponível no Amazon Prime Vídeo.