Um médico recém-formado que quer trocar um Pronto Socorro em Washington por um hospital de cirurgias plásticas em Los Angeles para atender estrelas de cinema e ganhar muito dinheiro. Sobre dinheiro, afirma que toda essa grana pode ajudá-lo a tratar pessoas pobres que precisam de operações reconstrutivas e não podem pagar por isso.
Ao cruzar os Estados Unidos de carro, sofre um acidente e derruba uma cerca em uma cidade pequena. Pra azar dele, quem construiu e está pintando a cerca é o juiz do lugar que o condena a prestar dias de serviços médicos para os moradores do local.
Assim começa a história do doutor Benjamin Stone (Michael J. Fox) em "Doutor Hollywood" (EUA, 1991). O roteiro é bacana porque leva um jovem arrogante de uma metrópole frenética para a vida quase parada de um lugarejo no meio do nada. Ele vai precisar se adaptar a essa nova vida, onde todos se conhecem e, qualquer coisa que se faça, "todo mundo" ficará sabendo.
Por ser uma comédia romântica, Stone se apaixonará pela motorista da ambulância do hospital da cidade, Vialula, a "Lou", (Julie Warner). Ele começa o jogo de sedução com Lou - que não demonstra muito interesse... Ao mesmo tempo, é assediado por Nancy Lee (Bridget Fonda), filha do prefeito, que "parte com tudo" pra cima do jovem doutor. O médico ainda vai ter seus perrengues com o brutamontes Hank Gordon (Woody Harrelson).
Cidade pequena... um rapaz... uma garota romântica... outra que quer seduzi-lo "de qualquer maneira"... um brutamontes que é "rival" dele. Isso lembra a ..."De Volta para o Futuro"...
E lembra mesmo! "Dr. Hollywood" foi gravado só um ano depois de Fox terminar a trilogia na pele de Marty McFly. O ator ainda traz o olhar e alguns trejeitos do jovem que viajava no tempo a bordo de um carro DeLorean.
E viajar no tempo é o que "Dr. Hollywood" parece nos fazer. O ritmo da produção é impressionantemente "lento" comparado aos filmes de hoje. Mas isso não é um "defeito". Não é um "problema". É só um jeito de fazer cinema que ficou naqueles saudosos anos 80/90. Já que a vida "andava mais devagar", sem o imediatismo da internet e das redes sociais, os filmes não eram diferentes. E é muito legal pra gente comparar um ritmo e outro.
Essa vida pacata, do interior, onde as pessoas quase param pra "ver a grama crescer", é um fenômeno universal. Um local onde pacientes, sem dinheiro, pagam o médico com um porco... onde a maior festa do município é o festival anual da abóbora...
"Dr. Hollywood" é, com certeza, um dos melhores filmes de Michael J. Fox. Vítima da Doença de Parkinson (diagnosticada ainda na década de 90), ele praticamente abandonou a carreira de ator (na qual ganhou 5 prêmios Emmy e recebeu 4 indicações para o Globo de Ouro). Sua última aparição nas telas (de TV ou cinema) foi em 2020, em dois capítulos de "The Good Fight" (um spin-off de "The Good Wife").
Pra quem já decorou roteiros de 70 páginas para um filme de Brian de Palma, hoje diz que sente muita dificuldade para memorizar textos. Por isso só aceita papéis com poucas falas.
Aos 61 anos, afirma, no entanto, que não surtou com o Parkinson:
"Eu não surtei. Só pensei...'então é isso. Vamos em frente'. Não aceito mais papéis grandes porque não serei capaz de entregar a performance. Então, ao invés de trabalhar, eu vou para a praia".
Fox afirma ser um otimista incondicional. Tem até um livro que ele lançou, em 2009, chamado "Um Otimista Incorrigível".
Ele acredita sempre num final feliz. Assim como o personagem de "Dr. Hollywood" que espera virar médico das estrelas do cinema.
* Filme disponível na HBO Max