Olha a situação: Uma nave decola rumo a Marte numa viagem de 2 anos com três tripulantes: A comandante Marina Barnett (Toni Collette), a médica Zoe Levenson (Anna Kendrick) e o botânico David Kim ( Daniel Dae Kim). O filme é dirigido pelo brasileiro Joe Penna que mora nos EUA há alguns anos e que começou fazendo fama e fortuna como youtuber.
O voo inicial seguia às mil maravilhas, era "céu de brigadeiro". Até que... descobrem que tem uma outra pessoa a bordo. É o tal "passageiro acidental", o engenheiro Michael Adams ( Shamier Anderson). E como é que ele foi parar dentro da espaçonave? Aí começam os "pecadinhos" do roteiro: Michael afirma que estava fazendo checagens finais para o lançamento do foguete quando foi "surpreendido" pela ordem da torre de controle para a ignição da nave. Ele foi encontrado preso dentro de um painel que precisou ser desparafusado para sair.
Mais: a comandante mantém contato frequente com a Terra falando com um sujeito chamado Jim. Ele seria o chefe da Missão. Mas só ela ouve a voz do cidadão. Parece que ela fica falando sozinha. Parece que o Jim é a "voz da consciência" dela que é consultada a cada perrengue que aparece na aventura interplanetária...
E ainda: O botânico David é um cara fisicamente frágil. Aparenta sofrer de labirintite, porque passa mal com tantos movimentos e giros da nave. Como é que ele foi admitido na missão se todo astronauta deve se submeter a testes beeeem rigorosos?
Dito isso, meu amigo, minha amiga, vamos ao que realmente importa: No roteiro, a viagem espacial parece ser só um motivo para se discutir empatia, solidariedade, humanismo. Explico: A espaçonave foi projetada para ter oxigênio só para 3 pessoas. Mas eles estavam em 4 (com o "intruso" a bordo...) . O que isso quer dizer? Que morreriam por falta de ar ANTES da chegada a Marte. Na verdade, o projeto original era para apenas 2 astronautas, mas a empresa privada responsável pela expedição fez uma gambiarra para que 3 respirassem "na boa". Mas 4.... aí é demais!
O que chama a atenção, também, é que Michael - o passageiro acidental - é negro. Não há nenhuma demonstração de racismo dos outros personagens, mas o rapaz que justamente está "causando" o gravíssimo problema não é branco. No país de George Floyd, fica evidente que o diretor (que também é o roteirista) quis colocar essa "discussão" para os espectadores matutarem...
A fotografia do filme é muito bonita. Se possível, assista numa TV de tela grande. A trilha sonora também é bem legal.
Se engana quem pensa que o filme é "de" Toni Collette, por ser a atriz mais "glamourosa" da produção. O papel principal é de Anna Kendrick. As duas já foram indicadas ao Oscar. Aqui uma curiosidade: Collette recebeu a indicação de Melhor Atriz Coadjuvante por "O Sexto Sentido", com Bruce Willis...
Anna Kendrick não é uma atriz excepcional, mas dá gosto ver ela atuar. Se não é uma "unanimidade", pelo menos entrega um trabalho honesto, bem feito.
Joe Penna (São Paulo, 29 de Maio de 1987) foi cedo para os Estados Unidos. Por lá fez faculdade de Medicina. No entanto, partiu para o cinema. Mas como teve a crise de 2008/2009, a indústria cinematográfica pisou no freio. Então ele foi para o youtube, onde fez clips e animações pra começar. Virou, em 2010, um dos 10 youtubers mais vistos... Vídeos dele tiveram 320 milhões de visualizações. Daí para o cinema, foi um pulinho...
Pra terminar, devo dizer que "Passageiro Acidental" termina de uma forma poética, bonita. Numa bela interpretação de Anna Kendrick.
A aparentemente frágil atriz mostra que pode ser uma estrela muito forte no espaço infinito.
* O filme está disponível na Netflix
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