Hugo Mengarelli foi o argentino mais paranaense que se tem notícia. Natural de Rosário Santa Fé, viveu 42 anos no Brasil. Fez da sua paixão profissional o meio de vida: o cinema. O teatro também foi a "sala de estar" dele.
Vários colegas e ex-alunos fizeram homenagens, lembrando a competência e a qualidade do trabalho de Mengarelli que são inegáveis. Mas vamos recordar de duas histórias dele quando era professor de cinema na Universidade Federal do Paraná. Corria a década de 1980 e este que vos escreve era um dos alunos.
Hugo era uma pessoa educada, gentil, generosa. Um dia convidou um pequeno grupo de estudantes para um churrasco na casa dele. Carne vai, cerveja vem... e lá pelas tantas resolvemos "provocar" o portenho dizendo que a Argentina havia "roubado" a Copa de 1978. Pra quê! O homem (único sóbrio no local), entrou na brincadeira, mas do jeitão dele: "Ameaçou" mandar todo mundo embora se continuássemos com aquele "sacrilégio"... Mengarelli já era considerado brasileiro, mas quando o assunto era futebol, aí o argentino reaparecia com toda a força.
Outro "causo" tem a ver com as aulas. Vosso humilde escriba gostava de "desafiar" o mestre afirmando que o cinema dos Estados Unidos era só "indústria cultural", que não havia arte no que os americanos produziam. Fiz isso num texto no qual avaliávamos um filme. A correção veio cheia de observações sobre o quanto estava errado. Só não tomei um zero porque além de ótimo professor ele também tinha muita paciência...
Hugo Daniel Mengarelli era temperamental e tinha gênio forte. Mas também era muito bem humorado. A última vez que falei com ele foi há muito tempo. Pena que não deu pra conversar sobre a importância de filmes como "Relatos Selvagens" para a história do cinema latino.
Pena que não deu pra afirmar pra ele que a Argentina faz filmes de críticas sociais muito melhores que o Brasil.
Acho que nisso o brasileiro Mengarelli concordaria comigo.