sexta-feira, 26 de novembro de 2021

ZÉ HAMILTON DEMITIDO DA GLOBO: NÃO SE DEIXA SOLDADO FERIDO PARA TRÁS!

    



    A notícia foi impactante pra quem gosta do jornalismo bem feito com informação apurada profissionalmente e divulgada na medida certa. O jornalista José Hamilton Ribeiro, 86 anos,  foi demitido nessa quinta-feira, 25 de novembro. Ele foi mandado embora da TV Globo depois de exatos 40 anos na emissora. A primeira reportagem dele foi no Globo Rural em 1981. 
    O começo no jornalismo foi na rádio Bandeirantes. Daí foi para o jornalismo impresso com passagens, por exemplo,  pela "Folha de S. Paulo" e revistas "Quatro Rodas" e "Realidade". Nessa última, em 1968, foi correspondente na Guerra do Vietnã, onde perdeu uma perna ao pisar numa mina.
    Na televisão participou de programas como Globo Repórter e Fantástico. Mas foi no Globo Rural que ele teve grande destaque com reportagens especiais.
    Ribeiro já ganhou 5 prêmios Esso (1964, 1967, 1968, 1977, 1978) o maior reconhecimento para os jornalistas brasileiros. O prêmio Esso é o "Oscar do Jornalismo" no país. Qual artista americano já ganhou 5 vezes o Oscar? Nenhum! Jornalista que ganha um prêmio Esso já é considerado muito bom. Se ganha dois, é ótimo, se vence 3 vezes é gênio. Mas ganhar 5 vezes...
    José Hamilton Ribeiro também é escritor. É autor de quase 20 livros. Entre eles, "O Gosto da Guerra" sobre o Vietnã. Nessa profissão, jornalistas entram para a história pelo o que eles são ou pelo o que eles fazem. Quem será lembrado pelo o que É, é o burocrata, o "chefete", o representante do dono na Redação. Já aquele que fica na recordação pelo o que FAZ, é o repórter que pisa o barro, que leva pedrada na cabeça, que pisa em mina ou que sofre ameaça de morte. É o caso de Ribeiro, um repórter por natureza.
    Ameaça de morte é o que já sofreu outro demitido pela Globo: Eduardo Faustini, o "repórter secreto" do Fantástico estava na emissora desde a década de 90. Ganhou esse apelido por  não mostrar o rosto nas reportagens que "atazanavam" a vida dos políticos que roubavam dinheiro público. Esse tipo de matéria foi o motivo das ameaças que Faustini recebeu. O trabalho dele no programa ganhou até um nome: "Cadê o Dinheiro Que Estava Aqui?"
    Políticos e "empresários" malacos devem estar "comemorando" a demissão de Eduardo Faustini. Há alguns dias, escrevi aqui que o Fantástico já não era o mesmo há um bom tempo: Virou um programa quase só de entretenimento e de "propaganda" do Globoplay e de novelas. Jornalismo? Só algumas pitadas. O "FANT" ficou muito previsível. Está chato. Agora piorou...
    Lembro de uma frase que virou um "clássico" de José Hamilton Ribeiro:
    "Primeiro, azeitona preta é tingida; segundo, nos banheiros de hotel, a torneira quente é a da esquerda; e terceiro, de ovo de cobra não sai canarinho. O resto eu aprendo todo dia".
    E a trágica passagem dele pela Guerra do Vietnã, faz lembrar um velho ditado militar  que patrões, executivos, burocratas e chefetes fazem questão de ignorar ao não reconhecerem o histórico de profissionais deste calibre:
    "Soldado ferido a gente não deixa para trás".