Jeferson Miola, integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (IDEA) e ex-coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial, escreve artigo comparando o jeito da Globo de fazer jornalismo com a atuação da Lava Jato: Todos contra Lula. Veja:
"Há décadas, desde o nascimento do PT e a consolidação da liderança popular do Lula, a Rede Globo pratica um jornalixo de guerra contra Lula e o PT. Ao longo desta trajetória antipetista, a Globo se aliou ao que de mais podre e vomitável viceja na política e nas instituições públicas e privadas.
O grupo econômico do clã Roberto Marinho se vale da fachada de órgão de comunicação para operar o projeto político e de poder oligárquico sob o disfarce da “liberdade de imprensa”.
É impensável imaginar que o Brasil pudesse ser jogado no precipício fascista sem a atuação ativa e metódica da Globo, que esteve por trás dos atentados à democracia em 1964 e 2016.
A associação com a Lava Jato na conspiração para derrubar Dilma, prender Lula e tomar de assalto o poder com a extrema-direita fascista é o ápice da trajetória criminosa e golpista da Globo.
No dia 16 de março de 2016, quando Moro perpetrou o crime de vazar para a Globo as conversas telefônicas da presidente Dilma interceptadas ilegalmente, o assunto dominou o noticiário online dos veículos da Globo e foi a tônica do Jornal Nacional [JN].
O JN daquela noite dedicou 26 minutos e 38 segundos em reportagens massacrantes de condenação da Dilma e do Lula, com direito a insinuações de “desvio de função” a respeito da nomeação do Lula para a Casa Civil. Nos dias seguintes, seguiu-se um massacre semiótico.
Além de repercutir a reação do Congresso dominado por Temer, Aécio e Eduardo Cunha, a Globo também mostrou panelaços e manifestações contra Dilma e o PT, produzindo um sentimento de “fim de linha” e de “inevitabilidade” da farsa do impeachment.
No dia seguinte, 17 de março, a capa d’O Globo estampou exclusivamente a manchete “Diálogo ameaça Dilma”, e reproduziu com sensacionalismo o conteúdo do diálogo entre Dilma e Lula gravado e divulgado criminosamente por Moro [imagem ao lado].
A postura editorial da Globo naquele episódio foi crucial para o avanço do golpe, uma vez que isentou Moro de qualquer crime, e legitimou a decisão ilegal de Gilmar Mendes de retirar Lula de cena política por meio do impedimento inconstitucional da sua posse na Casa Civil.
Hoje, quando a imprensa séria e isenta do mundo se escandaliza com as práticas mafiosas de Moro, Dallagnol e seus comparsas na PF, MPF, TRF4, STJ e STF, a Globo age na contramão, e assume a defesa dos crimes e dos criminosos que corromperam o sistema de justiça do Brasil com fins particulares e político-ideológicos.
Num contraste gritante com a cobertura espalhafatosa que fez em cada fase da Lava Jato, a Globo não divulgou nem 1% das revelações da Vaza Jato do site The Intercept.
E agora, diante das novas/velhas revelações levadas a público pela defesa do Lula, a Globo outra vez omite – ou divulga só marginalmente, e de modo distorcido –, os conteúdos escabrosos das artimanhas da máfia de Curitiba. A Globo, inacreditavelmente, não divulgou nenhum diálogo mantido entre Moro, Dallagnol e demais bandidos.
A barbárie estabelecida no país só foi possível com a participação direta e decisiva da Globo, que tem o poder de entorpecer a consciência de 80% dos lares brasileiros.
O jornalixo de guerra da Globo contra Lula é tão parcial e criminoso quanto a atuação parcial e criminosa do Moro, Dallagnol & seus comparsas nos processos farsescos arquitetados nos EUA para impedir o retorno eleitoral do Lula à presidência do Brasil.
Ao sonegar à população brasileira o acesso à informação correta, fidedigna e de notório interesse público, a Globo está afrontando dispositivos constitucionais como o § 2º do artigo 220 [vedação à censura de natureza política, ideológica]; os incisos V [direito de resposta, proporcional ao agravo] e XIV [direito a todos do acesso à informação] do artigo 5º; e ao inciso I do artigo 221 da Constituição, que versa sobre a finalidade informativa das emissoras de rádio e televisão.
A Globo é uma organização pária que vive à margem das Leis e da Constituição. A Globo é incompatível com a democracia.
A luta contra o militarismo fascista e pela restauração do Estado de Direito e da democracia é uma só, e se combina com a luta para derrotar a Globo e o papel nefasto que este monopólio desempenha na sociedade brasileira."