Villa Fiorito foi o ponto de partida. E dali, daquele canto adiado da zona sul da Grande Buenos Aires, se explicam muitos dos condimentos que tinha o combo com que viveu Maradona. Uma vida televisionada desde aquela primeira mensagem para a câmera em um pasto em que um menino disse que sonha em jogar pela Seleção. Um salto no vazio sem pára-quedas. Uma montanha-russa constante com subidas e descidas íngremes.
Ninguém ditou a Diego as regras do jogo. Ninguém deu ao seu ambiente (conceito tão naturalizado como abstrato e mutante ao longo de sua vida) o manual de instruções. Ninguém tinha joystick para aguentar os destinos de um homem que com os mesmos pés que pisou na lama chegou a tocar o céu.
Talvez sua maior coerência tenha sido ser autêntico em suas contradições. O único a não deixar de ser Maradona, mesmo quando nem mesmo ele pudesse suportar. Aquele que abriu amplamente a sua vida e naquela caixa de surpresas para despir muito da idiossincrasia argentina. Maradona é os dois espelhos: aquele em que é agradável nos olharmos e o outro, aquele que nos embaraça.
Ao contrário dos mortais comuns, Diego nunca poderia esconder nenhum dos espelhos.