Os donos da Gazeta do Povo decidiram manter Rodrigo Constantino como "colaborador" do site. Isso mesmo depois de ele ter dito, num vídeo, que "castigaria a filha e não denunciaria o agressor à polícia - caso ela fosse vítima de estupro bêbada." . E não é só: 117 empregados assinaram uma carta endereçada à direção (só 10 não teriam concordado em assinar) mostrando incômodo com o comportamento do dito "colunista".
A revolta dos jornalistas aconteceu no dia seguinte a uma "live" da qual Constantino participou sobre o caso do estupro que a influenciadora Mariana Ferrer sofreu em Florianópolis. Apesar da fala de Constantino e da vergonha que os empregados da Gazeta dizem que estão sentindo por conviver com o sujeito, os patrões resolveram "bancar" a permanência dele.
Os executivos se limitaram a afirmar que vão "prestar atenção na conduta do colunista nas redes sociais daqui pra frente."
Bora Pensar! Se a afirmação que ele fez em relação à filha não é suficiente pra se tomar uma atitude enérgica, então o que será preciso? E não dá pra evocar "liberdade de expressão" numa situação como essa, né? Dizer que o sujeito foi apenas "infeliz e inoportuno"?
Faltou bom senso da direção do jornal. E os "princípios" da Gazeta foram jogados na cesta de lixo.
Veja o comunicado que os donos mandaram para os empregados (que estão em trabalho remoto por causa da pandemia):
Caros colaboradores,
As considerações iniciais feitas pelo jornalista Rodrigo Constantino sobre estupro na última quarta-feira (4), em seu perfil pessoal nas redes sociais, foram, na nossa opinião, infelizes e inoportunas. Lamentamos profundamente o constrangimento que o episódio causou em muitos de vocês. Reiteramos que a opinião de nossos colunistas não representa, necessariamente, o pensamento do jornal. Por outro lado, vocês conhecem nossas convicções, entre as quais queríamos destacar a de que “a valorização da mulher é não apenas uma exigência de um olhar justo sobre o ser humano, como uma necessidade para o bem comum de qualquer comunidade”.
Foi precisa uma análise de todos os posts feitos pelo Constantino, de um vídeo com esclarecimento, publicado no fim da tarde de anteontem, e de um esclarecimento dele publicado ontem na Gazeta, para compreender que ele não se referia ao caso específico de Mariana Ferrer e, muito menos, amenizava a gravidade do abuso sexual, em qualquer circunstância.
O colunista admitiu que errou na abordagem de um tema tão delicado e, nesse texto publicado ontem na Gazeta do Povo, esclareceu seu posicionamento. "Não acredito que nenhuma pessoa com um mínimo de consciência e moralidade seja capaz de fazer apologia ao estupro. Portanto, venho aqui registrar e defender o óbvio: o estupro é um crime abominável e deve ser combatido por toda a sociedade, por todos os homens e mulheres de bem", escreveu.
Temas relativos a comportamentos suscitam hoje divergências agudas e inconciliáveis, algo que dificulta e torna nebulosa a compreensão de qualquer discurso intempestivo e eventualmente formulado com imprecisão. Essa realidade obriga a evitar soluções simplistas e unidimensionais e convida a mais reflexão e ponderação.
Justamente por isso, antes de tomar qualquer decisão, fomos cautelosos na análise do tema. Pedimos desculpas pela demora na manifestação de nosso posicionamento. Aqueles que nos acompanham há mais tempo e todos vocês que conhecem nossas convicções sabem que a Gazeta do Povo jamais considerou a liberdade de expressão como um direito absoluto, sem limites; em diversas ocasiões deixamos clara nossa posição de que há, sim, discursos que não são protegidos por essa liberdade. No entanto, também entendemos que os esclarecimentos fornecidos pelo colunista foram suficientemente satisfatórios para que não seja necessário tomar nenhuma medida mais drástica.
O pedido de desculpas feito por Constantino a todas as mulheres que se sentiram ofendidas com as palavras grosseiras ditas por ele, em redes sociais, pesou em nossa decisão. "Se perguntar para uma mulher se ela é feminista, talvez ela diga que sim, e ao pedir explicação, ela dirá que defende a liberdade, independência, respeito, direito de igualdade e empoderamento da mulher. Mas estou de acordo com isso tudo! E se de alguma forma minhas palavras mais fortes magoaram as mulheres, peço desculpas", afirmou.
Assim, confiando no discernimento de Constantino quanto ao aprendizado gerado por este episódio, e reafirmando nosso compromisso com a liberdade de expressão, não vemos, no presente momento, motivo para desligá-lo de nosso quadro de colunistas.