Já disse o jornalista Tarso de Castro, um dos fundadores do Pasquim: "Sou parcial mesmo. Não acredito em jornalista que não seja parcial." Não fique horrorizado, mas afirmo: Não existe jornalismo imparcial. É besteira, bobagem, ingenuidade pensar que sim. Vamos ao "tutorial": Se existe empresa jornalística, ela tem um dono. E esse patrão tem alguma simpatia/interesse por um lado político. Se existe empregado jornalista, ele pode ter lá seus nobres conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade. Mas enquanto trabalhar para a "firma", terá de dançar conforme o proprietário toca a música.
Esse negócio de que nossa(o) rádio/tv/jornal/portal é imparcial é só marketing. E do mais barato, mais fajuto que existe. Dizer que "ouvimos os dois lados...todos têm direito a dar sua versão" é só formalidade. Em televisão, por exemplo, uma reportagem tem lá seus 4 ou 5 minutos de uma acusação grave contra alguém e esse alguém aparece se defendendo só numa nota - lida pelo apresentador - de uns 30 segundos...Esse é o "equilíbrio"...
Vamos pegar como exemplo o JN: Duas professoras de Jornalismo, em Minas Gerais, Ângela Carrato e Eliara Santana, tiveram a paciência de analisar mais de 200 edições do telejornal em 2018 sobre as denúncias contra o ex-presidente Lula. Segundo elas, estavam lá (não por coincidência...) as figuras de comunicação que ficam no subconsciente das pessoas que assistem: Quando havia referência a Lula e ao PT, aparecia, num fundo vermelho, um duto de esgoto do qual saíam notas de dinheiro. É a questão do "condicionamento" do telespectador: Associa nomes e cores à corrupção e à sujeira da corrupção (aqui, no caso, simbolizado pelo cano de esgoto...). Ainda de acordo com as jornalistas, Moro sempre foi apresentado como o "benevolente" (aquele que "não permite" que o réu seja algemado...que concede uma cela individual ao ex-presidente... que ele pode se apresentar "até tal hora"...). Ou seja que "concede" direitos ao condenado. Com se não estivesse apenas cumprindo a lei...
Já nessa semana de outubro de 2020, quem mostrou não estar nada preocupada com a "imparcialidade" foi a Folha de S.Paulo (um jornal que migrou para a direita. O "sonho" dela deve ser se tornar um novo "O Estado de S. Paulo".). Dá pra ver isso comparando postura e manchetes sobre eleição.
Veja o caso de manchetes que tratam de candidatos que apresentaram declarações de bens incorretas. Para Filipe Sabará (Novo), o jornal tascou:
"Filipe Sabará, do Novo, retifica declaração de bens e passa de R$ 15 mil para R$ 5 milhões".
Já no caso de Guilherme Boulos (PSOL), a Folha mandou:
"Confrontado, Boulos corrige patrimônio após omitir conta bancária em declaração de bens". Detalhe: A "omissão" de Boulos havia sido de apenas 579 reais...
A televisão e o jornal inventaram as notícias? Não! Disseram o que aconteceu. Mas o que pesa é a "forma de retratar a realidade". De forma interessada dependendo conforme o vento sopra.
O simples jeito de editar uma matéria (sequência de assuntos, quem fala antes, quem fala por último....) já é uma maneira de demonstrar a parcialidade/preferência da empresa e/ou do jornalista.
Voltando ao Tarso de Castro: Se somos parciais ("graças a Deus!") que procuremos ficar do lado certo da história. Ao lado dos injustiçados, dos pobres e dos oprimidos.
Amém!