sexta-feira, 23 de outubro de 2020

"A REVOLTA DA VACINA": EM 2020, O BRASIL ENTRA NO TÚNEL DO TEMPO

    

A "Revolta da Vacina" causou uma guerra no centro do Rio de Janeiro

    O Brasil está com 5.323.630 pessoas contaminadas pelo coronavírus. Desse total, 155.962 já morreram. Números, claro, alarmantes. A pandemia começou em março e não há perspectiva que acabe tão cedo. A esperança é a vacina. Mas, na mais otimista das perspectivas, ela "pode começar a chegar" em janeiro. Há quem diga que é coisa só para abril em diante. Ninguém tem bola de cristal pra prever. São afirmações dos próprios laboratórios. Tudo vai depender do testes finais e da aprovação dos governos.
    "Aprovação dos governos"... esse é o grande problema. Vamos recordar: o ministro da Saúde, Eduardo Panzuello, chegou a firmar um acordo com a China para a compra de 46 milhões de doses da vacina produzida em parceria com o Instituto Butantã. O Messias ficou enfurecido, procurou o ministro e mandou "desfazer" o acordo. O ex-capitão, em mais um ato de insegurança genética, disse que "quem manda é ele", precisando, mais uma vez, "se reafirmar" no cargo.
    Além da produção/compra da vacina, o que também se discute é se a vacinação deve (ou não) ser obrigatória. Bolsonaristas (terraplanistas, conservadores direitistas lunáticos), embarcam na canoa do Messias e negam o medicamento. É falar em imunizar a população que eles ficam histéricos. Lembra - e muito! - a "Revolta da Vacina" que aconteceu no Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. O que aconteceu? O povo era contra a Lei da Vacinação Obrigatória. A "culpada" pela bronca da massa ignara foi a anti-varíola.
    A edição de 9 de janeiro de 1904 do jornal "A Notícia" publicou a regulamentação da lei: estava explicita a obrigatoriedade da vacinação. Era preciso o "comprovante" para poder se casar, pegar um emprego, viajar, se hospedar em hotéis e se matricular em escolas. Quem não cumprisse a lei poderia ser multado.
    Bora lembrar que, na época, o Rio de Janeiro era a capital do país. O médico Oswaldo Cruz , quando assumiu a diretora geral de saúde pública, em 1903, foi quem teve a ideia da vacinação em massa.
    Com boa parte da população "botando pra quebrar", foi declarado o Estado de Sítio e o cancelamento da vacinação obrigatória em 16 de novembro. A partir daí, a vacina se tornou opcional. Isso acabou com a "Revolta da Vacina". Mas a tragédia foi grande naquela semana de agitação: 30 mortos, 110 feridos, 461 deportados para o estado do Acre (sim! naquela época havia essa punição, porque nosso querido Acre era considerado o "fim da linha"...) e 945 pessoas foram presas.
    Essa revolta aconteceu muito por causa da ignorância científica do povo na época. Era uma medida extrema de Oswaldo Cruz (seria o "Mandetta" daquele período?) . Mas era um caminho que o médico enxergava pra tentar melhorar a saúde pública. Tudo, em resumo, foi causado por "medo de tomar vacina". E pensar que , mais de 100 anos depois, com todo o avanço científico/tecnológico, ainda tem muita, mas muita gente, com esse tipo de temor.
    Agora, segundo os especialistas, obrigar a população a se vacinar seria um meio seguro de garantir a imunização contra o coronavírus  que é mortal em muitos casos. Independente da idade. Com esse negacionismo de autoridades e de seguidores, vimos que o Brasil havia voltado para a Idade Média desde 2019. No entanto, descobrimos que essa "viagem medieval" tem uma parada no começo do século passado.
    Pra combater uma pandemia tão longa, o mundo já parendeu que é preciso uma carga gigantesca de responsabilidade. E está difícil de achar isso em Brasília. É preciso juízo. Mas isso é quase impossível:  o Messias manda o ministro desfazer um acordo para a importação de vacinas que podem salvar muitas vidas, e o ministro, para se agarrar ao cargo, aceita a ordem e ainda afirma:
    "Manda quem pode e obedece quem tem juízo." 
    Nesse caso, quem não tem juízo...


OSWALDO CRUZ ERA VISTO COMO "ESFOLADOR" DO POVO: SERIA O "MANDETTA" DA ÉPOCA?