sábado, 30 de setembro de 2017

A ECONOMIA DOMÉSTICA E O BANQUETE CAPITALISTA

    Professor e escritor Benedito Costa Neto brinda a todos nós com mais um texto sensacional. Aqui o Bora Pensar compartilha esse pensamento sobre o consumo...

Sobre economia doméstica e o grande banquete capitalista
Nunca fui lá muito econômico e sempre fui censurado por isso. Antes, pelos pais; depois nos casamentos; ainda pelos amigos. Então, sempre assisto bem constrangido programas que falam sobre economia. Claro: um misto de culpa e de vergonha por ter tomado novamente café na Kopenhagem, sendo que, sei lá, poderia ter aproveitado o pó velho da cafeteira italiana solitária na pia, esperando ser lavada.
Eu também poderia ter feito xixi no banho e economizado a descarga (sim, isso é dica de economia). Poderia ter usado mais a água da lavagem de roupa para limpar o quintal e guardado restinho de sabonete para fazer um novo, marmorizado (e, ah, sim, da Palmolive porque os da Natura são muito caros e tals). Sei que estou errado.
Há muito o que ser dito sobre esses programas de economia. Primeiramente, sim, gastamos demais (tudo, desde a água até as roupas) e deveríamos economizar. Depois, algumas incongruências: fazer comida em casa, por exemplo (supostamente mais barato do que comer fora, dependendo do lugar) muitas vezes não leva em consideração o preço do gás, da energia elétrica, da água, do sabão, do tempo gasto nessa atividade, e até mesmo de coisas secundárias, como lavar o pano de cozinha depois, etc., que "gastam" também. Mas comer em casa é, digamos, uma economia na maioria das vezes.
Outra questão me de deixa pasmo é a contradição e certa ironia perversa que há em programas (como o GR de ontem) sobre economia. É muito engraçado/curioso/até cômico que uma empresa que incentiva tanto o consumo faça um programa sobre economia. Bem: podemos pensar que não, que não há incoerência alguma. Você pode comprar produtos na farmácia e no supermercado que estão pagando o horário do GR e depois economizar no detergente. Pode utilizar os serviços do banco que também paga aquele horário e depois cortar despesas desnecessárias como cinema e sorvete.
Né. Afinal, para que cinema e sorvete? Podemos viver sem cinema e sorvete e ainda, juntando moedas num porco de lata, viajar para Ilhéus, que grande aventura de vida!
Mas o que mais me incomoda nesse tipo de abordagem (não, não é a narração nervosa da Bast) é a hipocrisia mesmo.
Essas emissoras tão responsáveis pelo golpe, pela crise, pelo balaio de gatos da política nacional, tão envolvidas com tanta corrupção, em vários níveis, "ensinam" o cidadão ferrado, f*dido, fora do mercado, sem perspectivas, a ser feliz com menos, com pouco, com metade, um terço, um quarto do que ganhava, porque sim.
Daí, ó: eu incentivo você a gastar, participio da sua derrocada e depois digo, "amoreh, mas dá para ser feliz assim! basta ser criativo, passar couve no suvaco e vender calcinha pra vizinhança. Sacou?"

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